Entrevista com o Pe. Stephen Rossetti
WASHINGTON, segunda-feira, 10 de outubro de 2011 (ZENIT.org)
– Os sacerdotes, em geral, estão entre os membros mais felizes da
sociedade, declara o padre Stephen Rossetti, e, contrariamente à opinião
laicista, muitos consideram o celibato como um aspecto positivo da
vocação. Estas são algumas conclusões destacadas por Rossetti em “Por
que os sacerdotes são felizes?” (Ave Maria Press).
O autor, decano associado no seminário e nos programas ministeriais da Universidade Católica da América, também escreveu “Nascimento da Eucaristia”, “A alegria do Sacerdócio”, e “Quando o leão ruge”. Psicólogo licenciado, Rossetti foi presidente do Instituto Saint Luke, um centro de tratamento e educação para o clero e os religiosos.
O autor fez uma pesquisa com 2.500 sacerdotes e chegou a conclusões que a sociedade moderna acharia surpreendentes.
Nesta entrevista a ZENIT, ele fala da pesquisa e da relação entre a
felicidade de um sacerdote e a sua proximidade com Deus e com os outros,
além da esperança para o futuro do sacerdócio.
ZENIT: Sua pesquisa diz que os sacerdotes estão entre as
pessoas mais felizes do mundo. Por que não ouvimos falar desta
felicidade mais vezes?
Pe. Rossetti: Esse constante achado da felicidade nos sacerdotes
continua sendo um segredo. Por quê? Primeiro, porque as boas notícias
não são notícia. As tragédias e os escândalos enchem as capas, mas caras
de sacerdotes felizes não. Em segundo lugar, porque a secularização da
nossa cultura gera uma espécie de negativismo contra a religião
organizada. Existe a crença secular de que praticar a fé deve ser algo
restritivo e triste. Escutar que os sacerdotes estão entre as pessoas
mais felizes é incrível. O fato da felicidade clerical é um desafio
poderoso e fundamental para a concepção secular moderna.
ZENIT: Quais são os fatores básicos da felicidade de um sacerdote?
Pe. Rossetti: Eu tive que fazer uma equação de regressão múltipla até
encontrar as variáveis mais importantes. A primeira e mais forte foi a
variável da “paz interior”. Os que transmitiam uma imagem positiva e uma
sensação de paz interior foram os mais felizes entre os sacerdotes.
Curiosamente, a minha pesquisa demonstrou que o item mais poderoso da
paz interior é a relação pessoal com Deus. A correlação deu uma r=.55,
que é uma correlação muito forte em ciências sociais. E de onde vem a
paz interior? Quando você tem uma relação sólida com Deus, você tem
muita paz interior. Jesus prometeu. “Eu vos deixo a paz, eu vos dou a
minha paz”.
Foi muito emocionante para mim ver as verdades do Evangelho dispostas
diante dos meus olhos em forma de estatísticas. Só encontramos a paz
verdadeira e duradoura em Deus. E claro, também a relação pessoal com
Deus foi um indicativo da felicidade. De novo uma correlação importante
(r=.53). A nossa vida espiritual é um poderoso contribuinte para a paz
interior e para a felicidade pessoal.
ZENIT: Qual é o papel das relações interpessoais, com a família, os amigos, os fiéis, na felicidade de um sacerdote?
Pe. Rossetti: Tem outra equação de regressão múltipla que eu fiz.
Perguntei qual era o indicativo mais forte numa relação com Deus, qual
variável parecia contribuir mais para uma relação positiva com Deus. A
resposta foi clara: ter amigos próximos (a correlação foi de r=.46).
Desenvolver uma relação sadia com os outros nos ajuda a nos conectar com
Deus. O isolamento provoca infelicidade. Fomos feitos para nos
relacionar com os outros. A ampla maioria dos sacerdotes pesquisados,
mais de 90%, tem amizades sólidas com outros padres e com leigos. Uma
das grandes alegrias e apoios para a vida de um sacerdote é a conexão
com os outros. O conceito laicista de que os sacerdotes são pessoas
solitárias, isoladas, não é verdade. A felicidade sacerdotal aumentou
nos últimos anos e é provável que ela aumente mais ainda. Só 3,1% dos
sacerdotes na pesquisa estava pensando em deixar o sacerdócio.
Considerando a enorme pressão contra o sacerdócio na atualidade, e os
muitos desafios reais, isto é muito importante.
ZENIT: E o celibato? Como ele se relaciona com a felicidade de um sacerdote?
Pe. Rossetti: Também foi interessante. Os sacerdotes chamados por
Deus a viver uma vida célibe, apesar das dificuldades, parecem ser
homens felizes. A correlação entre essa visão positiva do celibato e a
felicidade sacerdotal foi r=.47. Mais de 75% dos sacerdotes consideram o
celibato uma parte positiva da vida deles. Prevemos que essa
porcentagem vai aumentar no futuro, já que são os sacerdotes jovens que
defendem com mais energia o celibato. Ao contrário da mentalidade
laicista, o apoio ao celibato sacerdotal aumentará no futuro nos
sacerdotes dos Estados Unidos. Está desaparecendo esse tema “polêmico”
entre os padres no país. Mas este é o desafio. Uma coisa é aceitar o
celibato como uma parte necessária da vida do sacerdote, mas precisa de
um profundo nível de espiritualidade para experimentar o celibato como
um dom de Deus e uma graça pessoal. Uma profundidade de vida muito
concreta. Refletindo nos resultados do estudo, eu me sinto muito
inspirado pelo compromisso e pela vitalidade espiritual da vida desses
padres. Esta é a verdadeira realidade das conclusões do estudo: os
nossos sacerdotes são homens santos e felizes.
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