Reflexão de Dom Orani João Tempesta
RIO DE JANEIRO, terça-feira, 11 de outubro de 2011 (por Zenit)
– O homem é um ser simbólico, assim, nenhuma dimensão de sua vida pode
fugir a essa regra ou correrá o risco de perder o sentido. Também na
dimensão da fé somos seres simbólicos. Simbolizamos o nosso crer através
de diversos elementos que, no seu sentido profundo, nos despertam para o
que nos supera e transcende.
O Brasil, esta nação “abençoada
por Deus”, carrega gravado no coração a força inequívoca de muitos
símbolos que manifestam o coração, a alma, a vida e esperança de nossa
gente. Se alguns insistem em pelejar pela extinção de nossos símbolos
com a pretensa falaciosa afirmação de que o estado é laico, nós não
apenas afirmamos que, de fato, o é, mas a nação, que precede o estado e
dá o sentido de sua existência, essa não é laica: é religiosa, e mais, é
cristã e, sobretudo, fundada sob a égide da fé católica.
Assim, o monumento a Nosso Senhor Jesus Cristo Redentor, na cidade de
São Sebastião do Rio de Janeiro, evoca aquilo que a nação brasileira
possui de mais originalmente seu: evoca a fé de nosso povo desde os
tempos mais remotos.
O belíssimo monumento ao Cristo Redentor, uma das sete maravilhas do
mundo moderno, Santuário Arquidiocesano, em cujo interior foi
entronizada a imagem da Virgem Aparecida, é um dos nossos símbolos mais
emblemáticos e conhecidos. A ideia de sua construção remonta a tempos
bem mais antigos. Já nos tempos do Império, a Princesa Isabel, na época
da assinatura da Lei Áurea, diante da homenagem que lhe queriam prestar
erigindo uma estátua como “redentora”, não aceitou o pedido, conforme o
aviso de 2 de agosto de 1888, dizendo que deveriam homenagear o
verdadeiro “redentor dos homens” com uma imagem ao Sagrado Coração de
Jesus.
Houve também um sacerdote da Congregação da Missão, Padre Pedro Maria
Boss, que escreveu um poema (1903) dizendo que o Corcovado era o
pedestal criado para receber a imagem de Jesus. A obra seria executada,
de fato, pelo meu predecessor, o eminente Cardeal Sebastião Leme da
Silveira Cintra, a quem se devem a ideia, o concurso, os trabalhos, as
opções feitas, a liderança para angariar fundos e finalmente a
inauguração desse monumento ao Cristo Redentor. Ele que, irmanando não
apenas à Arquidiocese da Capital da República, à época a cidade do Rio
de Janeiro, mas a todo o Brasil Católico, fez por erguer aquele
verdadeiro testemunho de fé e de crença do povo brasileiro.
É um monumento concebido, feito, custeado e sonhado por brasileiros,
com colaborações internacionais para algumas etapas e um grande desafio
para a engenharia da época. Mesmo com as dificuldades e oposições da
época, foi erguido esse ícone nacional, que transcende a cidade do Rio
de Janeiro e a própria Igreja para ser o sinal de uma nação. Na ocasião
da inauguração, há oitenta anos, na presença do Presidente da República,
do governo e de todo o corpo diplomático, Sua Eminência, o Cardeal
Leme, em eloquentes palavras, poria fim à aversão existente entre o
Estado Brasileiro e a Igreja, que se prolongava desde a proclamação da
República, marcando uma nova fase de cooperação e ajuda mútua. Disse o
Cardeal da Santa Igreja Romana, Dom Leme, que no passado sintetizou o
que hoje e amanhã sempre será o monumento aniversariante:
“Cristo Impera e o Seu império é o império da paz, do amor, da
misericórdia e do perdão! Aqui na terra, enluarada pela visão branca do
Cristo, não há vencedores nem vencidos. Somos todos irmãos, filhos da
mesma pátria, membros da mesma família. Ao gesto amoroso de Cristo, que
abre os braços acolhedores a todos os brasileiros, sem distinção de
classes e de crenças, deve responder o gesto patriótico do amplexo
fraternal de todos os filhos e habitantes desta terra bendita. Que sob o
olhar divino de Cristo estale o Brasil o beijo meigo da paz!”
“Cristo vence! E porque esta terra é sua, ela nunca será vencida pelo estrangeiro invasor, nem retalhada pela guerra civil.”
“Cristo reina! E deste reino nunca será desterrada a cruz da sua e da
nossa bandeira. Já hoje seria preciso um cataclisma para fazer
desmoronar a montanha escarpada que transformamos em trono perpétuo do
Redentor. Seria preciso calcinar o granito do Corcovado; seria preciso
calcinar o Corcovado dos nossos corações.”
“Seremos o doce império em
que não há lugar para tiranias. Nem a tirania de capitalismos vorazes.
Nem a tirania de demagogismos sangrentos. Nem a tirania dos potentados.
Nem a tirania do povo.”
“Christus vincit, Christo regnat, Christo imperat, et Brasiliam suam
ab omni malo defendat!”
“Cristo vence, Cristo reina, Cristo impera, e
contra todos os males defenda o Seu Brasil”.
Ao celebrarmos os 80 anos do monumento-síntese do Brasil, quero
agradecer a tantos quantos, no passado como no presente, lutaram pela
edificação deste sinal de nossa fé! Com o Cardeal Leme, este mínimo seu
sucessor, filho da Ordem Cisterciense, que sucedendo a eminentes
Cardeais que regeram esta Igreja, genuflexo diante da beleza de tudo o
que significa e representa para nós o Cristo Redentor, em nome da Igreja
e dos católicos da cidade, do Estado do Rio de Janeiro e de todo o
Brasil. Eu novamente proclamo, com renovada fé, pedindo a proteção do
Redentor para todos nós:
“Christus vincit, Christo regnat, Christo imperat, et Brasiliam suam ab omni malo defendat!”
“Cristo vence, Cristo reina, Cristo impera, e contra todos os males defenda o Seu Brasil”.
Dom Orani João Tempesta é arcebispo do Rio de Janeiro
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