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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Biografia dos Santos: Santo Elói ou Elígio

Foi na cidade de Chatelac, perto de Limoges, na então Gália, hoje França, que nasceu Elói ou Elígio, de pais nobres e piedosos de origem romana, no ano de 588. “Formado desde cedo em todos os exercícios de piedade, seus pais lhe imprimiram tal desprezo pelo mundo, que ele não parecia ter nascido senão para empurrá-lo com os pés” (1).
Adolescente, observando o pai sua singular aptidão para trabalhos manuais, colocou-o como aprendiz de um ourives da cidade, enviando-o depois a Limoges, para a fábrica de moedas pertencente ao fisco e dirigida pelo mestre Abón, então a maior autoridade nesse ofício.
Em pouco tempo Elói fez tantos progressos, que seu mestre o enviou a Paris com uma carta de recomendação para o tesoureiro do rei Clotário II, a fim de aperfeiçoar-se. Contava então vinte anos, era alto e bem proporcionado de corpo, com opulenta cabeleira loira que emoldurava seu rosto com varonil beleza. Era sério, de olhar límpido, no qual transparecia precoce prudência. “Sua conversação era tão honesta e agradável a todos, que em pouco tempo granjeou na corte muito boas amizades. Entre outras, ganhou a simpatia do tesoureiro do rei, Bobón” (2).
O prêmio da honestidade
Entre as “boas amizades” granjeadas na corte, figuravam as de Santo Adueno (Ouen) e de São Desidério.
Um fato fê-lo conquistar definitivamente a simpatia do rei Clotário e transformou seu futuro. Desejava o monarca fazer um trono que fosse um reflexo de sua magnificência real e uma verdadeira obra de arte. Procurava para isso o artista capaz de executar seu plano. Bobón recomendou-lhe seu jovem protegido, enaltecendo as qualidades de Elói.
O rei aceitou a indicação e mandou entregar a Elói grande quantidade de ouro e pedrarias, com o desenho do trono. Passado algum tempo, o ourives apresentou a obra acabada ao soberano. Este ficou entusiasmado e mandou dobrar a importância que havia prometido pelo trabalho. Quando o rei ia sair, Elói puxou uma cortina que ocultava outro trono, em tudo igual ao primeiro. Com o material que lhe fora dado, havia feito dois tronos, e não um. Clotário ficou atônito com o que via. O ourives podia muito bem ter apresentado um só trono e se apoderado do que sobrara de ouro e pedraria. “Eis aqui uma grande exatidão, disse-lhe o rei, e tu mostras com isso que se pode fiar em ti para coisas muito mais consideráveis”. E passou a encomendar-lhe negócios de muito maior monta, e a tê-lo no número de seus conselheiros e embaixadores.
A crescente popularidade, que lhe granjeavam suas excelentes qualidades naturais e morais e o favor real, não diminuiu a piedade e as devoções do jovem artista. Pelo contrário, ele se preparou para essa nova etapa de sua vida fazendo um retiro e confissão geral, começando a mortificar sua carne com jejuns e penitências extraordinárias, pedindo a Deus que lhe perdoasse suas infidelidades passadas (os santos sempre vêem com clareza a maldade do pecado). Uma noite apareceu-lhe em sonhos um anjo sob a forma humana, dizendo-lhe: “Elói, tua prece foi por fim ouvida e irás ter uma garantia do que desejas”. Ele acordou e percebeu que um líquido de muito agradável odor corria das relíquias que conservava à parede, na cabeceira de sua cama, e caía sobre sua cabeça como que ungindo-o. Isso foi o fundamento da eminente perfeição que ele atingiu depois, e a graça foi tanto mais abundante quanto sua humildade era profunda.
Muito jubiloso por tão grande graça, Elói dela fez confidência a seu amigo Ouen, jovem senhor da corte. Este ficou tão tocado com o fato, que, a exemplo de Elói, começou “a desprezar as delícias e vaidades do mundo e a consagrar-se de todo coração ao serviço de Deus”.
Em breve a reputação do Santo “tornou-se tão grande e tão universal, que os embaixadores estrangeiros que vinham à corte, mal tinham tido audiência com o rei, iam visitá-lo, quer para obter seu favor junto ao soberano, quer para gozar o prazer de seu convívio”.
Ninguém era mais humilde e mais modesto que ele, e entretanto percebia-se em sua face uma santa alegria, que encantava a todos que tinham a felicidade de falar com ele. Jamais foi visto encolerizado nem impaciente, nem ousado em suas palavras, nem intemperante em suas refeições, nem apaixonado pela glória” (3).
Amparo dos pobres e escravos, zeloso pela ortodoxia
Santo Elói tornou-se o amparo dos pobres, aos quais dava tudo o que recebia, às vezes as próprias vestimentas. O rei muitas vezes lhas cedia de seu guarda-roupa, sabendo que finalidade teriam.
Outros protegidos desse santo ministro foram os escravos. Ele empregava grandes somas para resgatá-los. Depois, se eram estrangeiros, dava-lhes o necessário para voltarem à sua pátria; se não, procurava uma colocação para eles. Mas a todos procurava antes ganhar para a religião e para a virtude. Conservou assim alguns consigo, e com eles vivia como religioso em sua casa.
Santo Elói fundou vários mosteiros, um dos quais em Limoges, destinado a monges dedicados à arte da ourivesaria, para que com seu trabalho, feito em espírito de oração, dessem maior decoro à Casa de Deus.
Fundou também dois mosteiros para monjas, confiando a direção de um a Santa Áurea, e a de outro a Santa Godoberta. Edificou ainda várias igrejas e mosteiros.
“Embora seja  um  simples leigo, trabalha com ardor pela pureza da Igreja, persegue os simoníacos, confunde os hereges, reúne assembléias de Bispos, constrói igrejas, funda e organiza mosteiros, detém a propaganda monotelista dos emissários bizantinos” (4). Mesmo estando ainda na vida secular, “ recebeu eminentemente o dom dos milagres. Curou um homem paralítico de seus membros, dois mancos e um pobre cuja mão tinha-se tornado seca; fez voltar à vida  um morto, deu a vista a um cego; multiplicou tão prodigiosamente algumas gotas de vinho que tinham restado numa garrafa, que teve o suficiente para  uma tropa de mendigos que lhe pediam esmolas. Encontrou milagrosamente dinheiro em sua bolsa, depois que sua caridade a tinha esvaziado inteiramente; forçou, por uma fervorosa prece a Deus, ladrões a devolverem na noite seguinte os mais ricos ornamentos da igreja de Santa Colomba, da qual haviam roubado” (5).
Pastor de almas
A bela e multissecular catedral de Noyon (edificada após a morte de Santo Elói), cuja Sé episcopal foi ocupada pelo santo, no século VI
Falecendo Santo Acário, Bispo de Noyon (França), o Clero e os fiéis daquela diocese - como era costume da época - escolheram para suceder-lhe Santo Elói, mesmo tratando-se de um leigo. Este relutou em aceitar tamanha responsabilidade. Mas teve que ceder. Preparou-se durante um ano para receber o sacerdócio, com São Cesário de Arles, sendo por ele sagrado Bispo em maio de 641, juntamente com seu amigo Santo Ouen.
O Bispo titular de Noyon era ao mesmo tempo administrador de outras dioceses como Tournai, nos Países Baixos, o que representava um enorme campo de apostolado.
Santo Elói visitou toda sua extensa diocese, indo pregar mesmo nos Países Baixos, na Dinamarca e na Suécia. Sua pregação era constante, e sua palavra tinha uma força e uma energia maravilhosas; mas era seu exemplo que mais atraía os corações. Não deixava, porém, de ser enérgico quando a ocasião o exigia. Uma vez ele interditou uma igreja cujo vigário era vicioso e dava muito escândalo. Esse sacerdote, não se importando com o interdito, quis continuar a celebrar. Quando quis fazer soar o sino para convocar os fiéis, este permaneceu mudo. E assim ficou durante três dias, só voltando a soar quando o Bispo, cedendo aos paroquianos que afirmaram que o padre se emendara e estava disposto a fazer penitência, levantou o interdito. Um outro sacerdote, que ele havia excomungado por seus crimes públicos e infames, quis assim mesmo celebrar sacrilegamente. Mas apenas chegou ao altar, caiu fulminado.
Milagre depois da morte
Tendo falecido o grande amigo do Bispo, o Rei Dagoberto, filho de Clotário II, subiu ao trono Clóvis II. Este desposara uma antiga escrava que havia libertado, por causa de sua extrema beleza e grande virtude. Essa escrava, tornada rainha foi também uma santa: Santa Batilde. Santo Elói lhe predisse que ela daria à luz um filho, do qual ele seria o padrinho. Foi o que realmente aconteceu. E o Bispo mandou confeccionar um brinquedo de grande arte para seu afilhado.
A ele escrevia: “Teme sempre a Deus, dulcíssimo filho, ama-O; não esqueças que Ele está sempre a teu lado. Conserva a castidade de um só leito; ama ao que te diz a verdade, honra os sacerdotes, e lembra-te do passado, pensa no futuro, e tem cuidado para não pisar os ovos da áspide com os pés descalços” (6).
Enfim, tendo atingido os 70 anos de idade cheio de boas obras, Santo Elói chegou ao termo de sua carreira terrena. Chorado por todos, especialmente pelos pobres, entregou sua alma a Deus no primeiro dia de dezembro do ano 659 de nossa era.
“Avisada Batilde da imensa perda que acabavam de ter o reino e a igreja de Noyon, foi com seus três filhos e outros muitos príncipes ver e venerar o corpo de Santo Elói. Quis levá-lo consigo para o Mosteiro de Chelles, mas outros desejavam que fosse enterrado em Paris. O Senhor interveio milagrosamente em favor da vontade do Santo, que queria ficar em meio a seus amados diocesanos” (7). Quando tentavam removê-lo, tornava-se tão pesado que ninguém conseguia retirá-lo do lugar. Mas deixou-se levar para a igreja abacial de São Lupo, em sua cidade episcopal.
A memória deste Santo permanece até hoje viva na França, após quase um milênio e meio de seu falecimento,  e é recordada através de singela cantiga infantil.
______________________
Notas
1 - Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, d’après le Père Giry, Bloud et Barral – Libraires Éditeurs, Paris, 1882, tomo XIII, p. 4.
2 – Cfr. Pe. Pedro de Ribadaneira, in La Leyenda de Oro, L. Gonzalez y Compañia – Editores, Barcelona, 1892, tomo  IV, p.441.
3 - Les Petits Bollandistes, op. cit.,  pp. 5 e 6.
4 - Frei Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones FAX, Madrid, 1945, tomo IV, p. 449.
5 - Les Petits Bollandistes, op. cit., p. 10.
6 - Frei Justo Perez de Urbel, O.S.B., op. cit., pp. 451, 452.
7 - Edelvives, El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1949, tomo VI, p. 320. 

Fonte: Catolicismo, Revista de Cultura e Atualides. Ed. dezembro de 2000

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