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quarta-feira, 28 de julho de 2010

Carta de um Sacerdote a um Jornalista

Por:  Pe. Martín Lasarte sdb

Querido irmão e irmã jornalista:
 
 Sou um simples sacerdote católico. Sinto-me feliz e orgulhoso da minha vocação. Há vinte anos que moro em Angola como missionário.

Dá-me uma grande dor pelo profundo mal que pessoas que deveriam de ser sinais do amor de Deus, sejam uma faca na vida de inocentes. Não há palavra que justifique tais atos. Não há duvida que a Igreja não possa estar, senão do lado dos fracos, dos mais indefensos. Pelo tanto todas as medidas que sejam tomadas para a proteção, prevenção da dignidade das crianças será sempre uma prioridade absoluta.
 


Vejo em muitos meios de informação, principalmente em vosso jornal a ampliação do tema em forma mórbida, investigando em detalhes a vida de algum sacerdote pedófilo. Assim aparece um de uma cidade dos Estados Unidos, da década dos 70, outro em Austrália dos anos 80 e assim por diante, outros casos recentes… Certamente todo condenável! Percebem-se algumas apresentações jornalísticas ponderadas e equilibradas, outras amplificadas, cheias de preconceitos e até ódio.
 


É curiosa a pouca notícia e desinteresse por milhares e milhares de sacerdotes que se consomem por milhões de crianças, pelos adolescentes e os mais desfavorecidos nos quatro ângulos do mundo! Penso que a vosso meio de informação não lhe interessa que eu tenha tido que transportar, por caminhos minados no ano 2002, a muitas crianças desnutridas desde Cangumbe até Lwena (Angola), pois nem o governo se disponha e as ONG’s não estavam autorizadas; que tenha tido que enterrar dezenas de pequenos falecidos entre os deslocados de guerra e os que têm retornado; que tenhamos salvado a vida a milhares de pessoas no México mediante o único posto médico em 90.000 km2, assim como com a distribuição de alimentos e sementes; que tenhamos dado a oportunidade de educação nestes 10 anos e escolas a mais de 110.000 crianças...
 
 Não é de interesse que com outros sacerdotes tenhamos tido que socorrer a crise humanitária de cerca de 15.000 pessoas nos aquartelamentos da guerrilha, depois de sua rendição, porque não chegavam os alimentos do Governo e a ONU. Não é noticia que um sacerdote de 75 anos, o P. Roberto, pelas noites recorra à cidade de Luanda curando aos jovens da rua, levando-lhes a uma casa de acolhida, para que se desintoxiquem da gasolina, que alfabetizem centos de presos; que outros sacerdotes, como P. Stefano, tenham casas de passagem para os jovens que são espancados, maltratados e até violentados e procuram um refugio.
 
 Tampouco que Fray Maiato com seus 80 anos, passe casa por casa confortando os doentes e desesperados. Não é noticia que mais de 60.000 dos 400.000 sacerdotes, e religiosos tenham deixado sua terra e sua família para servir a seus irmãos em um hospital de lázaros, em hospitais, campos de refugiados, orfanatos para crianças acusados de feiticeiros ou órfãos de padres que faleceram com AIDS, em escolas para os mais pobres, em centros de formação profissional, em centros de atenção a zero positivos… ou principalmente, em paróquias e missões dando motivações à gente para viver e amar.
 


Não é noticia que meu amigo, o P. Marcos Aurélio, por salvar a uns jovens durante a guerra em Angola, os tenha transportado de Kalulo até Dondo e voltando a sua missão tenha sido morto no caminho; que o irmão Francisco, com cinco senhoras catequistas, por ir ajudar às áreas rurais mais recônditas tenham  morto em um acidente na rua; que dezenas de missionários em Angola tenham morto por falta de socorro sanitário, por uma simples malaria; que outros tenham pulado pelos ares, a causa de uma mina, visitando a sua gente. No cemitério de Kalulo estão os túmulos dos primeiros sacerdotes que chegaram à região… Nenhum passa os 40 anos.


 Não é noticia acompanhar a vida de um Sacerdote “normal” em seu dia a dia, nas suas dificuldades e alegrias consumindo sem ruído sua vida a favor da comunidade que serve.
 


A verdade é que não procuramos ser notícia, senão simplesmente levar a Boa Notícia , essa noticia que sem ruído começou na noite de Páscoa. Faz mais ruído uma árvore que cai que um bosque que cresce. 
 
 Não pretendo fazer uma apologia da Igreja e dos sacerdotes. O sacerdote não é nem um herói , nem um neurótico. É um simples homem, que com sua humanidade procura seguir Jesus e servir seus irmãos. Há misérias, pobrezas e fragilidades como em cada ser humano; e também beleza e bondade como em cada criatura…
 
 Insistir em forma obcecada e persecutória em um tema perdendo a visão de conjunto cria verdadeiramente caricaturas ofensivas do sacerdócio católico na qual me sinto ofendido.
 
 Só lhe peço amigo jornalista, procure a Verdade, o Bem e a Beleza. 
Isso o fará nobre em sua profissão.
 


Em Cristo,
 
 Pe. Martín Lasarte sdb 

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