Abortos crescem junto com as leis que o liberalizam
ROMA, segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012 (ZENIT.org) - Em 19 de janeiro, foi publicado no site da revista médica Lancet
um artigo com os números do aborto no mundo entre 1995 e 2008. Os
autores do texto declaram: "As leis restritivas ao aborto não estão
associados a menores taxas de aborto". Não surpreende que a publicação
tenha sido imediatamente adotada por vários grupos pró-aborto para
apoiar a liberalização da prática em todas as nações.
A base das
tentativas de liberalização é o assim chamado “aborto seguro”, para o
qual a legalização completa seria um elemento essencial, embora não
exaustivo. Trata-se de esforços para convencer os governos,
particularmente os da América do Sul, de que uma possível
descriminalização do aborto só poderia resultar em progresso, porque
impediria as complicações dos aborto clandestinos sem elevar o número de
abortos realizados.
Mas podemos perguntar se essa leitura é respeitosa da realidade ou
apenas uma representação conveniente para uma perspectiva muito
ideológica.
Um elemento de reflexão vem da constatação de quem são os autores:
membros do Instituto Guttmacher, que é uma formidável máquina de
propaganda do aborto, historicamente ligada à maior rede de clínicas de
aborto dos Estados Unidos, a Planned Parenthood. O Instituto Guttmacher
faz parte do lobby pró-aborto, que pede das instituições internacionais o
reconhecimento da interrupção voluntária da gravidez como parte dos
chamados “direitos reprodutivos”.
Os autores afirmam que processaram os dados de seu estudo a partir de
uma variedade de fontes: outros estudos publicados, relatórios
ocasionais, pareceres de peritos. Como uma tal miscelânea possa ter
embasado as estimativas referidas no artigo é um mistério obscuro, que
dista muito da transparência de métodos que deveria permitir a
verificabilidade e a reprodutibilidade do método científico de Galileu.
Já de outra coisa temos mais conhecimento: do enorme grau de
variabilidade e de incerteza que sustenta todos os métodos usados para
estimar os abortos clandestinos.
Basta comparar as estimativas do número de abortos antes da legalização em alguns países ocidentais.
Para a Itália, Grandolfo fornece o número de 350.000 abortos antes da
legalização, enquanto Figà Talamanca dá estimativas que, com base em
vários modelos matemáticos, vão de 220.000 até 3.640.000, enquanto o
professor Colombo apresenta como dado mais provável o de 100.000 abortos
por ano.
Na França, a agência nacional de estatística, Ined, avalia que, antes
da lei do aborto, o número era de 250.000. Já Thierry Lefevre fala de
55.000 a 90.000. Na Inglaterra, citavam-se 100.000 abortos antes da abortion act de 1967, ao passo que outras publicações científicas estimavam o número entre 15.000 e 31.000.
Não pode ser subestimado, ainda, o testemunho direto do
norte-americano Dr. Nathanson, fundador da NARAL (Associação Nacional
para a Revogação das Leis de Aborto), convertido à causa pró-vida e ao
catolicismo. Ele comprova que houve um exagero proposital na quantidade
alegada de abortos nos Estados Unidos, como técnica para criar a
impressão de que o aborto era muito difundido no país e precisava ser
legalizado.
Resta uma consideração a ser feita sobre o uso de dados brutos a
respeito de fatores paralelos, que podem modificar os próprios dados
sobre o aborto em si. O mundo “pró-escolha” (favorável ao aborto)
utiliza, por exemplo, todos os possíveis co-fatores a fim de tentar
diminuir a probabilidade de que os problemas psicológicos nas mulheres
que fizeram abortos se devam ao próprio fato de terem abortado.
Eles argumentam que a causa de tais problemas não é o aborto em si,
mas toda uma série de fatores que predispõem as mulheres com problemas
de saúde mental a abortarem com mais probabilidade. É de se perguntar
por que os especialistas que publicaram o estudo na Lancet não
corrigiram os dados sobre o aborto com base nos vários fatores que
influenciam o recurso a essa prática: renda, religião, raça,
fertilidade, escolaridade, para citar apenas alguns.
De uma coisa podemos estar certos: legalizar o aborto é aceitar que o
número de abortos vai aumentar. Isto não é uma tese, mas um fato
demonstrado na Itália, na Romênia, nos Estados Unidos, no Peru. E mostra
claramente que lutar por leis restritivas significa lutar pela vida.
Renzo Puccetti, professor na Faculdade de Bioética do Ateneu Regina Apostolorum
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