Calor
de rachar, por vezes superando a casa dos quarenta graus Celsius.
Ambiente seco a ponto de provocar uma sede quase constante. Estas
eram as condições climáticas nada convidativas da cidade de Madri
no último mês de agosto, quando a bela capital da Espanha acolheu
cerca de dois milhões de jovens do mundo inteiro para a XXVI Jornada
Mundial da Juventude. Somem-se a isso ouros dois fatores: o
desconforto causado pelo caminhar apertado entre multidões, em
termos de número, típicas de grandes blocos carnavalescos do
Brasil; e as alardeadas ameaças de protestos promovidos pelos
inimigos da religião, infelizmente cada vez mais numerosos numa
Europa que vem aos poucos abandonando as raízes cristãs que
fundamentam a sua existência. Observando tal contexto desfavorável,
qualquer um de nós é levado a imaginar o ar de preocupação e
esgotamento estampado nos rostos daqueles jovens peregrinos que
ousaram embarcar nesta aventura. Não foi bem isso o que ocorreu, no
entanto. Muito pelo contrário.
Pondo
por água abaixo as expectativas dos que levaram em consideração
apenas as limitações humanas diante das dificuldades e das
intempéries da natureza, o que se viu foi um espetáculo da Fé
Católica, um verdadeiro testemunho público de amor a Cristo e à
Sua Igreja diante de uma Europa secularizada. O que se viu foi uma
multidão de jovens – e nem tão jovens assim – aparentemente
incansáveis, sempre com um sorriso no rosto e dispostos a suportarem
grandes dificuldades para estarem ao lado do Vigário de Cristo na
Terra. E não foram poucas as provações: aos que quiseram ver o
Papa passar de perto, nove ou dez horas de espera foram necessárias
para garantir um bom lugar junto à passarela por onde desfilaria o
papamóvel; uma tempestade cheia de raios - acompanhada de uma
ventania que trazia consigo bastante poeira – aguardava os jovens
na noite da vigília para a Missa de Envio com o Papa.
Tudo
para estar alguns instantes ao lado do Sucessor de Pedro. Instantes
que tornaram desprezíveis os sacrifícios suportados por horas a
fio. Algo incompreensível aos olhos dos que ainda não receberam o
dom da Fé, pois, como diria o Apóstolo,
“o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, pois
para ele são loucuras, nem as pode compreender, porque é pelo
Espírito que se devem ponderar”
(ICor 2, 14).
Ouvir
a voz suave do Doce Cristo na Terra (cf. Santa Catarina de Sena) é
uma graça de incalculável valor. Frágil por conta da idade e
tímido por conta de seu temperamento, Bento XVI é eloquente, fala
ao coração e, principalmente, ao intelecto. Instiga profundas
reflexões com suas palavras claras e firmes. Ao jovial e
performático Bem-Aventurado João Paulo II juntavam-se multidões
para vê-lo; a Bento XVI juntam-se as multidões para ouvi-lo falar.
E
ele foi ouvido. Até mesmo os arredios meios midiáticos - que até
então apenas valorizavam e exageravam as poucas e tímidas
manifestações laicistas que quase passavam despercebidas pela
multidão de peregrinos – deram o braço a torcer e passaram a
destacar o alcance das mensagens do Papa e a atenção que os jovens
dedicavam a ouvi-la.
Ele
falou, mas também calou. E com ele dois milhões de jovens em pleno
sábado à noite no enorme aeroporto [desativado] de Quatro Ventos.
Foi após a tempestade, quando o Santo Padre convidou o Dono da festa
a estar presente. O silêncio foi ensurdecedor. E todos se puseram de
joelhos na terra molhada ou no asfalto a adorar Nosso Senhor
Sacramentado. Ele, o Homem-Deus, era o verdadeiro motivo pelo qual
jovens de diversos países abandonaram o conforto de seus lares para
viverem a loucura de testemunhar, em torno do Santo Padre e diante do
mundo inteiro, um amor incondicional Àquele que nos amou primeiro. O
Deus que é a “Alegria
da nossa juventude” (cf.
Sl 42).
Até
mesmo o renomado escritor Vargas Llosa, Nobel de Literatura e
agnóstico confesso, rendeu-se à beleza e à força deste
testemunho. Logo após a JMJ de Madri, em artigo intitulado “La
fiesta y la cruzada”
(A festa e a
cruzada),
proferiu as
palavras que seguem:
“Crentes e não crentes devemos alegrar-nos por isso com o que
aconteceu em Madrid nestes dias em que Deus parecia existir, o
catolicismo parecia ser a religião única e verdadeira, e todos como
rapazes bons caminhávamos mão dada com Santo Padre em direção ao
reino dos céus”.
Que juventude é esta capaz de
arrancar tão elevadas palavras de um agnóstico? Que juventude é
esta capaz de tornar tímidos, quase irrelevantes, os gritos
histéricos dos que querem banir Deus da sociedade? Quem são estes
que, de diversos povos e culturas, unem-se para manifestar a mesma
Fé, a Fé Católica e Apostólica? Tais questões foram já
respondidas no grito de guerra que ressoou em Madri durante uma
semana inteira: “Esta
es la juventud del Papa!”
(Esta é a juventude do Papa!).
“Queridos
jovens, para descobrir e seguir fielmente a forma de vida a que o
Senhor chama cada um de vós, é indispensável permanecer no seu
amor como amigos. E, como se mantém a amizade se não com o trato
frequente, o diálogo, o estar juntos e o partilhar anseios ou
penas?” (Bento
XVI, em discurso interrompido pela tempestade na Vigília de Oração
com os Jovens)
Comitiva recifense em Madrid: Adriana Rocha, Jorge Ferraz, Humberto Carneiro, Poliana Pacheco e Claudemir Pacheco
José Claudemir Pacheco Júnior é recifense e analista de sistemas.
Casado e pai de uma filha, esteve com a esposa [Poliana, na foto] em Madrid no último mês de agosto para tomar parte da JMJ 2011
Casado e pai de uma filha, esteve com a esposa [Poliana, na foto] em Madrid no último mês de agosto para tomar parte da JMJ 2011
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